Uma breve história da alimentação vegetariana


Nossos alimentos vêm do nosso lindo planeta. A Terra está dentro de nós, em cada pedaço de comida, no ar que respiramos, na água que bebemos e que flui em nosso corpo. Desfrute de ser parte da Terra e coma de uma maneira que lhe permita estar consciente de que cada mordida aprofunda sua conexão com o planeta.”

Thich Nhat Hanh

 

Vamos começar com uma breve viagem no tempo. Os humanos que habitavam a Terra antes da Revolução Agrícola (que ocorreu há 12 mil anos) eram caçadores-coletores. Obtinham na natureza uma oferta variada de plantas e se alimentavam de alguns animais, para garantir a sua sobrevivência. A alimentação era mais centrada em plantas, que estavam sempre disponíveis, do que em animais, cuja caça era difícil e perigosa, como podemos imaginar. Dizemos que os humanos são onívoros, pois podem se alimentar tanto de animais quanto de plantas.

A Revolução Agrícola fez com que os humanos deixassem de ser nômades e formassem agrupamentos em torno do plantio de algumas espécies de vegetais, incluindo trigo e arroz. Animais como vacas, ovelhas, porcos e galinhas começaram a ser domesticados, sendo usados para a alimentação. A diminuição da variedade de vegetais com o advento da agricultura, junto com o crescimento populacional, trouxe muitas consequências negativas, como a piora da saúde e o aumento do risco de infecções.

A disseminação destas espécies de animais já veio acompanhada de muita crueldade, com a restrição de seus instintos naturais, laços sociais e liberdade de movimento. Práticas de confinamento, castração e separação de vacas, cabras e ovelhas fêmeas de seus filhotes (para manter a oferta de leite para os humanos) são muito antigas e continuam sendo realizadas até hoje.

Não é possível estabelecer com exatidão quais foram os primeiros relatos sobre a alimentação vegetariana. No Oriente, há registros na Índia oito séculos antes de Cristo. O hinduísmo, budismo e jainismo têm como princípio central a não-violência (ahimsa).

Na Grécia antiga, há alguns escritos religiosos, como os dos seguidores do Orfismo, que continham regras sobre o que comer e como tratar os animais, banindo sacrifícios e recusando o consumo de carne e ovos.

Um dos primeiros vegetarianos a se tornar célebre foi o filósofo e matemático Pitágoras (570 a 500 a.C.), considerado o “pai do vegetarianismo ético”, que inspirou muitos outros pensadores gregos e romanos. Muito tempo depois, no Renascimento, relata-se que Leonardo da Vinci seguia uma dieta vegetariana e estava convencido de que “um dia, condenaremos o consumo de animais assim como condenamos o consumo de nossa própria espécie, o consumo de humanos”. 

No século XIX, o vegetarianismo ressurgiu com força na Europa e nos Estados Unidos, impulsionado por movimentos religiosos, como os Adventistas do Sétimo Dia. O termo “vegetariano” foi estabelecido em 1847, com a fundação da Sociedade Vegetariana da Inglaterra. Nesta época, um vegetariano famoso era o dramaturgo e romancista irlandês George Bernard Shaw, que disse: “animais são meus amigos, e eu não como meus amigos”. Albert Einstein (que viveu entre 1879 e 1955), por sua vez, acreditava que “nada irá aumentar a chance de sobrevivência da nossa vida neste planeta quanto a evolução para uma dieta vegetariana”.

No século XX, com o advento de estudos científicos que relacionam o consumo excessivo de carne a doenças crônicas não-transmissíveis, o vegetarianismo se firmou como uma escolha alimentar saudável, também impulsionado pelas questões de sustentabilidade ambiental. 

Hoje, o vegetarianismo é uma prática comum em todo o mundo (no Brasil, mais de 30 milhões de pessoas se declaram vegetarianas), seja por motivo de saúde, ética, compaixão pelos animais e a necessidade urgente de preservação ambiental.